quarta-feira, 31 de março de 2010

Crónicas de uma vida passada

Conheci a Rhonda em 2001, numa viagem de comboio entre Budapeste e Debrechen, um calor insuportável e a mulher agarrada aos toalhetes que lhe limpavam a testa, o pescoço e as axilas, enquanto dizia que lhe salvavam a vida aquelas pequenas coisas cheirosas e húmidas.
A Rhonda é irlandesa, é lésbica e tem um sentido de humor fantástico, contagiante mesmo, com ela por perto, ninguém fica indiferente.
Mas o Brian? Quem é que é o Brian?
Lembro-me nessa viagem pela Hungria do Mattia, italiano louro de olhos azuis, um biólogo sensível com queda para o teatro, e do Fidel, que me impressionava pela maneira como fumava erva, credo que aquilo era um a seguir ao outro.
Da Laura, espanhola de salero e pulso forte que controlava os seus meninos como uma mãe galinha, do Mark o irlandês de olhos azuis profundos que anos mais tarde ao ver-me grávida se confessou, ser pai de um adolescente de 14 anos, pode ser difícil!
Mas o Brian? Quem é que é o Brian?
Já na Austria, lembro-me do Ivan, um italiano baixinho, moreno de olhos verdes, que gostava de ser músico. Também me lembro de um Ramiro espanhol que se dizia apaixonado por uma enfermeira, e do Sérgio, também espanhol que embora fosse caladinho e de poucas notoriedades se safava bem no meio das miúdas. Do Álvaro, cujos olhos côr de céu, falavam a língua de Neruda, e desde esse dia que penso sempre que o chileno é o espanhol mais bonito de se ouvir.
Mas o Brian? Sério que não me lembro de nenhum Brian.
Na Grécia lembro-me da Eva, que sacou o nosso amigo no meio da pista de dança, com um olhar, da Sérvia, que não lhe reconheço o nome, mas que é impossível não pensar nela quando falamos da Grécia!
Recordo-me da Alicia, essa italiana de corpo perfeito que fazia tanto coração bater mais rápido, como me recordo do Dimitri, o georgiano que tivemos a sorte de ter do nosso lado quando o jogo de futebol deu para o torto e o Paulo e o Rafael foram brutalmente espancados.
Mas o Brian? Mas que raio...quem é o Brian?
Quando recordo a Roménia, vêm-me à lembrança o americano na Elvis Villa, aquele para quem o poder residia-lhe na palma da mão desde que esta estive à volta de uma arma, e ainda assim estranhamente admirava Aristóteles...o francês que me queria a fazer campanha em Portugal pelo sim a um qualquer Tratado, que não o de Lisboa, o grego que queria que bebessemos uzo com ele para comemorar a vitória no campeonato do mundo, o porco!
Um belga louro com ar de miúdo fofo, e um outro belga a quem a vida não tratou bem, mas que tinha uma sensibilidade que comovia
Mas o Brian? É que não faço a minima de quem é o Brian.
Pode ser alguém com quem me cruzei numa noite de bebedeira e que esqueci da mesma forma que conheci, ou então aquele gay que na fila do pequeno almoço se agarrou a mim a dizer:"Oh you are so beautifull!!! Come with me, come with me" e de quem eu praticamente fugi, deitando assim por terra esse meu sonho de um dia converter um gay num homem ...honesto!!!

sábado, 20 de março de 2010

Ele há semanas em que ninguém me liga nenhuma, ou melhor dizendo, os meus amigos não se lembram de me dar uma vida social.
Pois esta semana ele é a festa do Nuno, a Raquel que me quer a jantar em sua casa, o Marcos que quer ir passear com os miudos ao jardim...

E eu agarrada ao computador porque tenho trabalho para fazer....quem me viu e quem me vê!!!

Só para que saibam...vou a todas as solicitações

sábado, 13 de março de 2010

quinta-feira, 11 de março de 2010

Idade

Há cerca de 2 semanas fui jantar com um amigo que me disse que me achava com um ar "senhoril".

Fiquei a matutar nas suas palavras e ...oh diabo, eu não estou com um ar senhoril, eu estou é a ficar velha!!!

E nem só porque perdi a cintura, nem porque o corpo já não tem a firmeza de outrora, nem pelas rugas que finjo não ver no espelho todas as manhãs enquanto me arranjo, nem tão pouco pelos cabelos brancos que escondo por debaixo da pintura.

Tenho 35 anos a caminho dos 36, a fazer em Junho, e dou por mim a não ouvir o que o meu filho me diz se fala mais baixo que o habitual, e ontem tive de chegar quase com o nariz a tocar o ecrã do computador para poder ver o número que precisava, mesmo tendo os óculos postos.

Além disso são as dores nas costas que me atormentam, os pés frios que não me deixam dormir sem saco de água quente, os joelhos que sentem o raio da mudança de tempo, e este cansaço permanente que não me larga!!

Bolas, estou a ficar velha, mas então porque será que me sinto tão bem para além de tudo o resto??

Venham de lá mais 35 se faz favor!!!!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Heroi

Ontem o meu filho deixou-me com um nó na garganta.
Como anda medroso de ir sozinho para a cama, enfia-se na minha na expectativa de que lá possa dormir, e ter companhia.
Ontem fiz-lhe a vontade e como estava de rastos acompanhei-o, estava eu a meter-me na cama enquanto ele discorria uma lenga-lenga sobre super herois, que sinceramente não acompanhei, nem tão pouco me suscitou interesse porque percebi que era uma "coisa" lá dele, mas quando falou comigo senti as lágrimas chegarem-me aos olhos, porque me revi nas suas palavras, quando me disse:
"O papá é o meu heroi."
Eu sei que não devia, mas a primeira coisa que pensei foi: eu também pensei o mesmo durante 30 anos e foi o meu heroi que me deu a minha maior desilusão.
Os herois não existem, são meras figura de ficção que criamos nas nossas cabeças porque necessitamos de guias.
Quando criamos uma imagem "imaculada" de alguém, muito em breve iremos entender que essa imagem que criamos não passava de um desejo, os herois têm medos, pés de barro, telhados de vidro, no fundo não são mais do que homens e mulheres, que erram e pecam.
Tenho o meu marido em boa conta, e espero que nunca faça ao meu filho o mesmo que o meu pai me fez a mim...quebrar-lhe os sonhos, a ilusão.
Espero que nem o pai, nem a mãe o tornem cínico ou desacreditado e que possa acreditar nos seus herois para sempre.