Um amigo meu, depois de cerca de 20 anos a pensar como teria sido diferente a sua vida, decidiu casar-se.
No caso dele a dor foi derivada à morte de uma namorada na adolescência, para o comum dos mortais, é quase invariávelmente uma grande paixão que terminou sem louros, ou que ficou no limbo.
Bem sei que no caso do E. é mais sério, mas no fundo creio que as razões são as mesmas - idealizar o que poderia ter sido a vida com aquela pessoa.
Numa relação que terminou sem sabermos bem porquê, ou que se viu castrada pelas mais diversas razões, acabamos por esquecer tudo o que eventualmente correu mal, e enaltecer nas nossas mentes o que efectivamente correu bem.
Um dia apaixonei-me por uma pessoa de tom de pele diferente do meu, fomos proibidos de nos vermos, naturalmente a relação - que diga-se estava já moribunda - saiu fortalecida, e juntos lutámos por ficar juntos. cedo percebemos que afinal estávamos condenados a não ficar juntos, não porque houvesse quem não nos quisesse juntos, mas apenas porque não era "meant to be".
Também me apaixonei por quem vivia a 1500 km daqui, e ele era certamente perfeito, porque eu não o conhecia suficientemente bem para lhe encontrar os defeitos, passado um ano de relação platónica à distância achei que os prazeres de uma presença iriam certamente ser superiores à pureza da perfeição, sou dada a coisas terrenas....
Houve também um dia em que me senti morrer no dia em que me disseram que afinal a minha grande paixão, não era assim tão correspondida do outro lado, e achei que nunca mais iria conhecer quem me merecesse, ou de quem eu estivesse à altura, a vida tinha terminado nesse dia. Claro que tudo muda no dia em que nos voltamos a apaixonar e afinal a vida continua, mesmo depois de nos termos martirizado durante dias e noites a fio, ou chorado baixinho para que ninguém percebesse que definhavamos devagarinho.
Tudo isto faz parte do que somos, faz parte de VIVER A VIDA, paixões, desilusões e sonhos, que depois de desfeitos serão certamente reconstruidos, mais tarde ou mais cedo - embora na altura isso seja uma utopia que os nossos amigos nos querem fazer acreditar.
Depois passam-se anos e anos, e um dia lembramo-nos daqueles que passaram pela nossa vida, mesmo que brevemente, com enorme impacto, e tendemos a lembrarmo-nos na perfeição da forma como nos conquistavam, nos cortejavam, da maneira como nos abraçavam e beijavam, dos bons momentos que passámos juntos. Gostamos de esquecer as duras palavras que os amantes atiram na altura de romper, das lagrimas que certamente nos rolaram pelas faces quando virámos costas, das noites em claro pensando, mas que raio fiz eu de errado.
Afinal as grandes paixões que não se concretizaram não são mais do que uma rosa, de uma tal beleza infinita, que acabamos por nos esquecer que existem espinhos prontos a enterrarem-se na nossa carne, até que de facto nos picam e percebemos de como estávamos felizes até nos termos picado.
6 comentários:
Subscrevo :)
beijinho
É curioso como a infelicidade do passado por ser esquecida....
Mas o importante mesmo é vermos o quanto somos felizes no presente... e aproveitar cada segundo dessa felicidade...
Maria - Pois... quem nunca passou por isso que atire a primeira pedra :)
TM - Um dia uma amiga minha depois de ter tido uma mini discussão com o respectivo, e enquanto se queixava dele, terminava dizendo: Bem, desde que eu não me esqueça as razões pelas quais estou com ele, acho que tudo vai correr bem.
:)
Concordo plenamente com a tua amiga...
Sim, que isso de homens perfeitos é uma ilusão... Mas se nós os amarmos realmente, o nosso coração há-de saber sobreviver aos defeitos... :)
TM - Quando estava "no mercado" - hehe - antes de ter conhecido o meu maridão, costumava dizer que não procurava o principe encantado, porque nunca fui ingenua o suficiente para pensar que ele existisse - queria era encontrar aquele que tivesse os defeitos com os quais eu pudesse viver.
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