É por alturas do mês de Novembro, que por esse mundo fora, muitos começam a fazer contas à vida e a perceber que o que ganham nos seus míseros empregos (a menos que sejam gestores públicos ou administradores de bancos à beira da falência) não dá para o brinquedo novo que o puto anda a pedir desde o inicio do ano, nem para aquele fim de ano na Madeira, que anda atravessado desde que a vizinha do lado mostrou as fotografias do fogo de artificio.
É também por alturas do mês de Novembro que disparam as utilizações dos cartões de crédito, na esperança de serem pagos a 30 dias com o subsídio de Natal, mas na realidade as dívidas acabam por parecer ter pilhas Duracell, é que duram, e duram…
Eu decidi ser diferente, e por isso hoje dediquei-me ao pensamento (coisa que normalmente me inibo de fazer pois ganho rugas).
Assim pensei em todas as prendas de Natal que quero para mim, porque o resto da familia já foi informado: “Este ano prendas só as que vierem pela chaminé.”
Como todos os possíveis candidatos vivem em apartamentos e a chaminé é uma coisa em desuso, estou livre de dar presentes.
Mas este ano estou esperançada, não sei se pela vitória do Obama, mas a verdade é que estou esperançada na mudança. Acho que a 24 de Dezembro o mundo vai ser surpreendido, se olharmos com atenção para o céu iremos ver o trenó, as renas e o anafado (roliço vá, não aconteça ele ser sensível com o peso) do Pai Natal.
Por isso vou escrever a minha carta ao Pai Natal hoje, e via email. Cedinho para ele poder procurar com calma e em formato electrónico que eu acredito num Pai Natal modernaço. Aqui vai:
“ Querido Pai Natal, este ano portei-me bem,
- não bati com o rolo da massa no meu marido, nem quando ele me exasperou por não arrumar as coisas que deixa espalhadas casa fora, ou deixar a tampa da sanita para cima, ou … enfim tu percebes …
- não cuspi na cara dos meus chefes sempre que cinicamente me deram os bons dias e perguntaram se estava bem, depois de me terem retirado as funções de financeira e atirado para a recepção;
- sou simpática para todos os clientes que entram porta dentro na empresa onde trabalho e acham que sou criada deles;
- ouço reclamações muito “apuradinhas” de fornecedores que se queixam, com razão de que a empresa onde trabalho lhes deve facturas com mais de 4 anos;
- não pus o meu filho de 2 anos para o castigo quando ele fez cocó no tapete da sala por estar a ver o noddy e se esquecer de pedir para ir à sanita, nem lhe disse que tu não existes;
- gosto das minhas amigas mesmo quando elas cancelam aquele jantar providencial que vai finalmente cortar a minha rotina, porque se zangaram com o marido, ou simplesmente não lhe apetece sair de casa porque está frio.
Fui uma menina linda, e ainda me inscrevi no yoga para aprender a controlar a raiva, ando a fazer meditação para evitar respostas bruscas, ando a tentar melhorar o meu mau feitio, pelo que mereço todas as seguintes prendas:
- Mala castanha pele de crocodilo da Sisley;
- Vestido vermelho da Globe;
- Sapatos pele de leopardo da Lanidor;
- Gabardine bege da Globe;
- Relógio com brilhantes e bracele branca da Guess;
- Casaco comprido castanho da Globe;
- Relógio com brilhantes e bracelete preta da Electa;
- Tennis Guess (vi-os na sapataria do centro comercial da portela, é fácil de encontrar);
- Um emprego melhorzito, já agora na área financeira e perto de casa, que pague bem e onde se possa sair a horas;
- O fim, mas mesmo final, das empresas de herança do meu paizinho que só me têm trazido é dívidas para pagar;
Eu sei que os pedidos que se seguem eu devia fazê-los ao menino Jesus, mas … posso começar por ti, depois mando-lhe outra carta a ele, que isto de pedir muito nunca fez mal a ninguém: saudinha, para mim e para os que me são queridos; que a crise não nos afecte muito; dinheirinho para conseguir pagar a casa, o carro, os móveis, os cartões de crédito e as férias (aqueles que tiverem estes créditos todos vão agradecer-me); trabalho, por muito mau que seja, que chegue o cheque ao fim do mês, já ajuda; paz no mundo, o fim das guerras e do sofrimento que por aí anda.
Não é pedir muito pois não?? Um grande bem haja, meu querido Pai Natal”
6 comentários:
Não, não é pedir muito... aliás, deve-se sempre começar por pedir e pedir tudo... o resto virá por acréscimo... espera-se!
podia ter arriscado e pedir umas coisitas que ando cá a magicar quando ganhar o euromilhões dar a quem me rodeia, mas achei que isso era abusar.
A avaliar pelas prendas pedidas, as tuas não virão pela chaminé, é mesmo pelo cano. Fazemos assim: se eu ganhar o Euromilhões, ofereço-te uma delas, à tua escolha.
Beijocas!
PS: já por causa da onda consumista desta época, tenho tudo comprado, assim não há cá devaneios de última hora
Abusar?! Nada disso! Imagina que daqui a muitos muitos mas mesmo muitos muitos anos, quando chegares ao pé do São Pedro e ele te indicar uma portinha pequenina para entrar e te der uma batinha esfarrapada para vestir, tu perguntas "Mas porquê isto assim? Eu fui boa, não mereço melhor?". E o São Pedro responde "Mereces mas não pediste!". Já viste? Toca a pedir que não é abuso nenhum! :)
Se estamos a falar em passar a eternidade de bata, oh socorro, quero um fato Chanel, que aqui a menina tem corpinho de sereia, e bem sei que os anjos não têm sexo, mas os eunucos também não tinham e nem por isso deixavam de se enrolar com as concubinas.
Rafeirinho, tu não prometas uma coisa que depois tens de cumprir, é que se formos a ver eu ainda deixei muita coisa em aberto para pedir, como a viagem a nova iorque, que me povoa os sonhos desde criança, o pópó novo que estou a precisar, and so on, and so on.
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