Um amigo disse-me que tinha dele uma visão romanceada, porque não o conhecia no dia à dia, a minha resposta foi:
Eu – Verdade.E então? Qual é o problema?
Ele – Nenhum, pelo menos sou perfeito para alguém.
Não respondi porque achei que não valia a pena dizer-lhe que apesar de tudo, não conhecer uma pessoa no dia à dia não nos impede de lhe conhecer alguns defeitos o que os torna tudo menos perfeitos, mas quem quer gente perfeita por perto.
A verdade é conhecemos os outros através dos nossos próprios olhos, o que significa que na realidade temos uma versão romanceada de todos os que nos rodeiam, e não há qualquer problema nisso, porque somos vistos da mesma forma.
Por exemplo, será que o meu amigo sabe que quando as coisas não me correm de feição, o tom da minha voz não é mais do que escárnio.
Que sou agressiva, porque desde sempre achei que a defesa é o melhor ataque e que isso acontece porque sou insegura e frágil e a ideia de alguém algum dia se aperceber dessa minha fraqueza me deixa vulnerável e por isso reactiva.
A sensibilidade está-me à flor da pele e que quando me magoam, perdoo porque não sou vingativa, mas não esqueço porque tenho boa memória e isso significa que são marcas que permanecem para a vida, feridas que não cicatrizam.
Quando me irrito deixo de falar e passo a dar ordens.
Uso as palavras de uma forma precisa, colocadas nas frases de maneira a poderem tocar no ponto onde sei que vai doer mais, porque as palavras são minhas amigas e sei manipulá-las para ter vantagem, numa situação que não controlo e em que me sinto desconfortável.
Fecho-me em mim mesma perante a desilusão e fico uma pessoa fria e arrogante e faço-o de uma forma brilhante, parecendo que ser fria e arrogante me é inato quando na realidade não o é.
Não é fácil entrar no meu mundo, não é fácil lidar comigo, não sou simpática a todos os momentos, aliás a maioria dos meus melhores amigos nem gostou muito de mim ao início, porque prefiro saber com quem estou a lidar antes de abrir o livro da minha vida aos que se aproximam.
É fácil conhecer os outros quando eles se deixam conhecer, no ambiente que lhes é mais favorável. A pessoa simpática que toma café connosco todos os dias, ou mesmo a pessoa que somos quando estamos de férias e sem a pressão do tempo, e já agora o tempo que passamos com os nossos amigos são normalmente momentos de lazer, em que nos encontramos descontraídos, podemos ser pessoas diferentes dependendo do momento, mas na realidade não precisamos de conhecer os outros nos seu melhor e no pior se gostamos deles exactamente como eles são quando estão connosco, nem eu gosto de mim própria em alguns momentos, mas no geral gosto de quem sou, e os meus amigos também porque me vêm através dos seus olhos, e eu gosto deles assim.
6 comentários:
Excelente texto!!
Revejo-me em algumas passagens… ao longo do tempo fui-me apercebendo que tenho uma certa capacidade de moldar a ideia que os outros fazem de mim… mas não resulta com todos… há sempre pessoas que nos conseguem “ler” como um livro aberto… claro que não são muitas… o ponto essencial deste texto é uma grande verdade, o que “sabemos” dos outros não passa da nossa interpretação do que conhecemos deles… se não é fácil conhecermo-nos bem como podemos ter a pretensão de conhecer os outros?!
E talvez tenhas razão, talvez seja melhor assim :)
Beijinhos,
FATifer
FATifer - Lá está, tu não me conheces, mas consegues ler bem as minhas palavras :)
"a maioria dos meus melhores amigos nem gostou muito de mim ao início" - não pertencendo ao "melhores" amigos, mas aos amigos pelo menos, acho engraçado que não concordo nada com esta frase! Gostei de ti à primeira vista. E nas seguintes também - o que é geralmente ainda mais difícil!
Pois é, não te conheço pessoalmente (mas já concordámos que um dia colmatamos essa falha). Por mais que possa não ter o feedback da tua expressão facial/corporal, pelo que já li do que escreveste formei uma opinião, “com os meus olhos”, como dizes. (modéstia à parte considero que não sou mau de todo a “ler nas entrelinhas”) E ao que parece consigo entender-te bem, nalguns casos pelo menos… já vimos que concordamos em alguns aspectos por isso gosto de vir aqui “implicar” contigo (e tu ainda dizes que gostas que “implique”!) :)
Beijinhos,
FATifer
Goldfish - Mas tu vinhas recomendada, não te aproximaste sem "background".
Obrigada, eu também gostei, e gosto, de ti logo na primeira vez, e curiosamente, lembro onde e com quem :)
FATifer - Verdade, quando implicas, e exactamente por não concordamos, fazes-me perceber que há outras formas de ver as coisas, alarga os horizontes ter que discorde de nós.
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