terça-feira, 24 de maio de 2011

Tenho um segredo

Aliás tenho alguns segredos, mas este é um que posso partilhar.
Puro horror é o que sinto sempre que falo em público, fico com a boca seca, as pernas tremem, as mãos transpiram e já para não falar que o coração bate tão rápido que parece que vai saltar do peito e aterrar, estatelado no chão a 5 km de distância.
Também conclui que quando o faço, prefiro que haja púlpito, posso esconder a linguagem corporal e ainda tenho onde pôr as mãos , por outro lado já experimentei falar perante uma plateia de 800 pessoas, assim como plateias de 30 ou 50, e sinceramente é-me bem mais fácil fazê-lo para muita gente, talvez por pensar que no meio de tanta gente, ninguém me irá ouvir, quando são menos, sinto que todos os olhos estão centrados em mim.
Eu sei que dizem que quando se fala em público a melhor prática para perder o medo é imaginar que a plateia está nua, mas o que sinto é exactamente o contrário, e morro de medo.
Verdade que nos últimos meses me tenho exposto mais do que o habitual, e que tenho feito intervenções publicas em todos os forums por onde tenho passado, porquê? Pois parece que tenho o mau hábito de ouvir as pessoas por quem tem admiração, e ouvi dizer que :
“Por muito bom que seja o teu trabalho, se não te deres a conhecer, nunca ninguém irá reparar em ti.”
Na altura fez sentido, vai dai, toca a botar discurso.
A semana passada, lá fui eu dizer umas coisas, havia na sala umas 40 pessoas, quando terminei, sentei-me ao lado de um amigo meu e confessei-lhe:
“Caramba, estou em pânico, acho que até se vê o coração a bater através da T-Shirt.”
Ele olhou-me com um ar sério e disse-me com tranquilidade:
“Ok, mas para a próxima quando fores lá não vais ler, levas um papel com tópicos!”
Eu sei que ele é uma pessoa inteligente, tão inteligente que me disse que eu tinha sido uma verdadeira surpresa para ele, como pessoa, pela forma como trabalho e pelas ideias que tenho vindo a apresentar, mas é difícil perceber que eu a ler morro de pavor, com tópicos, no mínimo além de todas reacções físicas que já exemplifiquei anteriormente ainda me bloqueia o cérebro.
Mas pior foi esta Segunda feira, tive de ir apresentar a Lenda de Abrantes à sala do meu filho, a audiência tinha 20 pirralhos de 4 anos e garanto que nunca houve ninguém mais difícil. No entanto, eu levei bonecos, eles ficaram satisfeitos e eu consegui safar-me em beleza.

6 comentários:

FATifer disse...

Nem todos podemos ser excelentes oradores mas podemos sempre treinar e melhorar…

Digo-te que quando comecei a ler fiquei em parte espantado pelo que dizias mas do pouco que te conheço, pensando bem, pode não ser assim tão estranho (não vou pôr-me aqui a explicar porque digo isto, depois se quiseres explico-te…).

Há quem defenda que todos temos facilidade em falar sobre algo de que gostamos (parece-me que não será assim tão linear)… não tenho autoridade moral para me pôr aqui dar-te conselhos até porque não me considero um grande orador mas quero acreditar que terás dentro de ti a capacidade de, pelo menos, minorar esse problema para não dizer eliminar mesmo esse medo. Invariavelmente estas questões residem, em grande parte, num problema de auto-confiança (tu é que vives dentro da tua cabeça e saberás avaliar a situação melhor que ninguém).

Tendo a concordar com o teu amigo em relação ao uso de tópicos mas já me apercebi que há casos, como o que dizes ser o teu, em que se lê o texto por medo de não se ser capaz de dizer tudo (o meu problema é normalmente o contrário, isto é, não divagar).

Uma plateia de crianças pode ser mais assustador mas é muito mais honesta, consegues ler nas caras se gostam ou não, são muito mais sinceros! (será que é isto te assusta mais?)

Não sei que te diga a não ser reafirmar que acho que tens em ti capacidade minorar esse teu medo, mesmo que tenhas de recorrer a ajuda de terceiros, do que conheço de ti tens força para conseguires mudar isso, primeiro passo é não te renderes ao medo! ;)

Beijinhos e bons discursos!
FATifer

Rafeiro Perfumado disse...

Também não morro de amores por falar em público, mas se for sobre um assunto em que esteja à vontade, safo-me bem. Imaginar a plateia nua? Nem pensar, já viste se calha ir falar a um lar de Terceira Idade?

Beijocas!

PS: concordo com o teu colega, pois a credibilidade que se transmite a uma plateia é totalmente diferente se estiveres a ler ou a falar olhando para as pessoas

Gata2000 disse...

FATifer - És sempre tão quiducho :)
Claro que já melhorei muito, e sempre ouvi dizer que a persistência faz a excelência.
O meu problema não é esquecer-me nem tão pouco divagar, são os finais, se não os escrever são ... dolorosos. ahahahah
Uma audiência de crianças é bastante mais sincera sim, e eles foram fantásticos.

Gata2000 disse...

Rafeiro - Sabes que sempre me disseram que essa cena de ver a malta nua resultava, mas comigo não. Por um lado havia os que me iriam causar repulsa e aí lá estava o caldo entornado, por outro aqueles que iriam suscitar em mim calores, e lá estava o caldo entornado também, o melhor é não os olhar mesmo :)

Maria disse...

O segredo é bailar os olhos

Gata2000 disse...

Maria - Yep, é isso mesmo!