Em Agosto

A minha amiga V está grávida, a Madalena está prestes a nascer, pode acontecer a qualquer momento.
Desde que fui mãe que fiquei piegas, antes achava as crianças adoráveis, mas desde que fossem ao longe, agora não sei se porque o Alexandre me transformou a vida e porque descobri que não há amor como o dele e que o facto de ele me dar um sorriso me alegra o dia e os abraços dele me fazem sentir uma pouco melhor, ou se apenas porque quando ficamos mais velhos ficamos mais sentimentalistas, foge-me o olho para a lágrima quando uma das minhas amigas fica grávida.
Mas a Madalena vai ser diferente das outras, não só porque foi desde o ínicio uma lutadora que se impôs contra todas as expectativas, mas porque a relação de cumplicidade que tenho com a mãe dela é fora do comum, e porque o casamento com o meu filho está desde já planeado, quer os pais queiram, quer não!!!
Achas que os nossos filhos alguma vez vão acreditar nas mães que têm?

Achas que eles vão compreender porque serão sempre brancos os teus ténnis para mim, ainda que tenhas de os deitar fora por estarem impróprios para serem usados?
Ou porque te perdoarei sempre que te enganares na noite anterior, porque isso me permitiu atacar o italiano de olhos verdes e voz rouca?
Será que vão entender que mesmo no auge da loucura nunca misturámos ácidos com alcool?
Compreenderão que se uma sobremesa não é de cebola, é porque é certamente de batata?
Vão fazer as mesmas viagens que nós a países onde não somos certamente bem vindos, mas ainda assim capazes de espalhar o nome de Portugal ao vento e de o se fazer ouvir?
A Madalena vai agarrar-se a dormir com uma taça de frutos secos e acordar sempre que alguém lhe pretender tirar um, com cara de poucos amigos?
Imaginas o Alexandre a entalar os dedos numa porta de ferro, estalar os ossos e ainda assim continuar a dançar?

Que os nossos filhos nunca saibam as mães que têm, mas que se divirtam tanto como nós!