quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Meras justificações pseudo precedentes do crime

Nestes ultimos dias tenho-me sentido perdida entre a vontade de fugir de uma vida que não me satifaz e à qual me sinto presa, e a vontade de saber se de facto a água purifica como dizem. Se me deixar levar por ela ficam para trás as frustações, as expectativas nunca alcançadas, as ilusões de grandeza que não se concretizaram, a raiva de ser menos do que poderia ter sido, as humilhações sofridas por não querer aceitar ser menos do que aquilo que sei que mereço.

Sinto falta de uma caneta na ponta dos dedos - tenho com ela uma relação sensual, talvez até de certa forma fálica - e das enormes possibilidades que se me apresentam ao olhar uma folha em branco, preciso-lhes do toque. Odeia a impessoalidade de uma "word sheet", a frieza do teclado. Ali não há para mim a esperança de um novo começo e por mais aterradora que possa ser esta derradeira sensação de esgotamento total, a verdade é que hoje, depois de ter perdido tudo o resto, sobra-me apenas a esperança. E mesmo esta começa a desvanecer.

Preciso de ajuda.
Alguém que me encontre um micro radio, transformado em chip que eu possa implantar bem no meio dos meus hemisferios cerebrais de forma a poder ligar e desligar sempre que não possa mais ouvir os meus proprios pensamentos.
Há dias em que faço um exercicio que aprendi na meditação e tento afastar qualquer pensamento que me assome. Acabo a imaginar-me a agarrar os meus próprios pensamentos com as mãos e a afastá-los. É uma imagem divertida esta, como se estivesse a tentar apanhar borboletas - acabo conseguindo um momento fora de mim.

Como era bom poder abandonar o corpo, sair de uma existência mediocre, voar até um ponto alto da cidade, olhar à roda apreciando a beleza da paisagem e planar até aterrar renascida, sem passado nem presente e auspiciando um futuro totalmente irresponsável sob a forma de uma borboleta esvoaçante, de um pensamento que alguém pretende afastar, ou até de uma palavra escrita por uma caneta preta de ponta fina na pureza de uma folha em branco.

12 comentários:

Goldfish disse...

Hoje não estamos contentes... será síndrome pós-férias? Alegra-te lá, rapariga, e em vez de afastar pensamentos, agarra com as duas mãos pensamentos bons, a começar pelos do teu pequenote - vais ver que é remédio santo!

Gata2000 disse...

Gold - O sindrome é já pré ferias. Não há pensamentos bons para agarrar por isso o melhor é mandá-los para onde não me possam fazer mal. O puto fugiu mais a cadela para casa da avó. Ele está bem, se eu me aproximar ainda estrago, o melhor é deixá-lo sossegado

K disse...

Não há pensamentos bons para agarrar? Não há nada de bom?! Ah! Não acredito!




(mas gostava de fazer isso aos pensamentos maus, quando a cabeça parece que vai entrar em curto-circuito de pensar sempre o mesmo!)

Gata2000 disse...

K - Deve ser do calor, anda a estirrucar-me o cerebro.
Mas o exercicio é real, tenta fazer que vais ver como é giro!

Paulo Lontro disse...

Gata, sabes que não és diferente de qualquer um de nós.
Se encontrares essa forma mágica de abandonar o que se quer mesmo abandonado, olha, conta aqui à gente... !
:)

Anónimo disse...

Tu não imaginas a quantidade de vezes que me senti assim: perdida.
Sem saber o que queria, sem saber se o queria ou não.
Sem saber nada.
E tinha que colocar-me o sorriso nos lábios e ir em frente.
Miúda, eu não te vou dizer que ultrapassar estes momentos é fácil, porque não é.
E nem sequer te vou dizer para seres positiva, porque sei que quando nos sentimos assim, a palavra "positiva" não existe no nosso vocabulário.
Apenas te digo que te entendo.
Continua a contar coisas num papel...por vezes, ajuda.

Gata2000 disse...

Paulo - Ora aí está uma conclusão lementávelmente brilhante: não sou diferente dos outros! :)

Sei que posso abandonar muita coisa, mas que por muito que fuja o problema continuará a residir em mim, e é aí que preciso resolver o que está a bloquear-me as energias.

Gata2000 disse...

Cris - Foi por me ajudar que criei o blog, é uma catarse, talvez por dar tanto de mim aqui me seja dificil de dar a cara e dizer: "olá eu sou a Gata2000"

E sim vou tentar ser positiva, porque essa é a palavra que tem de estar sempre presente no meu dicionario, e tenho de agradecer as coisas boas que a vida me proporcionou, e tenho de olhar para o copo e vê-lo meio cheio, e relacionar-me com as pessoas que me rodeiam e achar que não são de uma perfeição que me magoa atrozmente, são tão humanas como eu, erram, pecam, magoam, amam e usam a capa da felicidade de cada vez que se sentem ameaçadas e feridas.

E agora deixaste-me um nó na garganta. Vou ali chorar trancada na casa de banho e já volto!

Maria disse...

Gata,

resta-nos respirar um dia a seguir ao outro até que se faça paz e se sossegue o ruído.

beijinho

LBJ disse...

Gosto da tua relação com a caneta e do resto sinto-me espelhado e não tenho treino para meditar.

Às vezes temos mesmo que mandar os papéis ao ar e gritar e sair porta fora, nem que seja para mais tarde regressarmos mais leves.

Gata2000 disse...

WAI - Paz, ora aí está uma coisa que procuro incessantemente. Mas garanto-te que um dia encontro-a!

beijinhos

Gata2000 disse...

LBJ - Os milagres da meditação... devias tentar, não custa nada, e há dias em que ajuda.
Já para gritar com o coração em sangue e bater com a porta não precisamos de treino, mas precisamos coragem.
Eu costumo fechar a porta e esconder-me do mundo, chorando baixinho para não incomodar ninguém e tentar limpar a alma. Quando resulta volto ao mundo de sorriso nos lábios e volto à minha busca pela felicidade.