Há meses queixava-me da forma como achava tinha, injustamente, sido despedida de assistente de sala do Teatro São Carlos, depois de lá trabalhar durante quase 7 anos, por uma empresa - a CHIQ – que lá estava há cerca de 7 meses.
Mas tenho por máxima de vida que assim que se fecha uma porta há uma janela que se abre, e não costumo enganar-me. Pois a realidade é que passado 1 mês sobre o episódio pouco digno a que os senhores - dono da empresa mencionada e chefe de sala da casa de espectáculos referida – se deram ao trabalho de me despedir por ter despido o casaco (não fiquei nua, nem em trajos menos dignos, fiquei de camisa branca, como indica a farda a que estávamos obrigados), fui convidada para integrar um grupo de trabalho a que já pertenci em tempos, mas que me afastei por causas dos imensos afazeres que acarretam uma criança pequena, um emprego a tempo inteiro e outros 2 em part time, embora os part time fossem 2 em 1 – São Carlos e Camões.
Do São Carlos ficaram amigos do coração, as meninas da bilheteira a quem presto a minha mais humilde homenagem por tratarem da casa como se fosse sua, sem o devido reconhecimento como é apanágio dos empregadores portugueses, sejam eles entidades públicas ou privadas.
Alguns dos colegas com quem partilhei longas noites de espera que alguém morresse (há sempre uma morte em ópera que se preze) e que não tivesse uma morte muito longa (apesar de diversos golpes desferidos ou de muitas balas disparadas, o falecido tem sempre muito tempo para gritar um impropério ao filho da mãe que lhe selou o destino).
Na plateia a “Porquita” do meu coração, a “Miss butter” o “Mestre” e o “Lory”, nas ordens a minha Isabel companheira de longos anos de loucuras e viagens, o “Vinu Acre”, na porta o futuro papá babado, e as meninas dos programas, uma doce e a outra em jeito de vendaval. A Palmira e a Vitória que injustamente foram dispensadas por serem mais velhas que o suposto “patrão” meia leca, a quem “carinhosamente” eu chamava de Pin e Pon por não ter nem metro e meio de altura e que sempre suspeitámos que a sua atitude de tirano “humilhador”, se deve resumir ao facto de não só ser pequeno como de o resto da sua anatomia lhe ser proporcional. Muitos dos convidados habituais que já me conheciam pelo nome e que chegavam mesmo a perguntar-me antes da entrada na sala como era a peça, para não serem surpreendidos pelas muitas peças de pouca qualidade a que esta direcção nos tem habituado, especialmente desde a saída do Director Musical Pinamonte.
Ficarão também para sempre guardadas em lugar de destaque algumas boas óperas e bailados que vi, e fui paga para ver. A vantagem que me foi concedida ao poder presenciar alguns dos bons nomes da música lírica internacional e a vantagem de poder ficar de fora em algumas das atrocidades que se cometeram em nome do “progresso”.
Do Camões fica Coppélia, o único bailado que vi enquanto assistente de sala, mas que me permitiu ver Ana Lacerda em palco, mais uma vez a ser paga para a ver.
A época já começou, naturalmente que estive este Sábado num camarote do São Carlos, e serei presença assídua na plateia do Camões a ver as peças que decidir merecem o meu dinheiro, até porque tenho uma criança que não se cansa de ouvir musica clássica e vibra com opera – gosto que me orgulho de lhe ter incutido.
O que vou ganhar em termos pessoais no grupo de trabalho que integro é muito superior ao que ganhava como Assistente de Sala, até porque se este ultimo me integrou no mundo da arte em pontas e faringe, o outro vai integrar-me numa realidade bastante mais social, bem do meu agrado, isto para não falar que em termos financeiros, o que ganhava em muitas noites de pé no São Carlos vai ser agora substituído por poucas noites de trabalho de secretária.
Afinal, o despedimento que parecia ter abalado as minhas finanças não foi mais do que um valente empurrão para uma coisa bem mais aliciante e com um futuro mais brilhante, repleto de novos desafios, aconchegados pela camaradagem e amizade daqueles que deixei num vida anterior.
6 comentários:
Realmente a vida está sempre a surpreendernos... e felizmente que o faz também com coisas boas... :)
Boa Sorte...
TM - Tenho uma amiga que diz: a vida é bela, nós é que damos cabo dela.
E tem razão, por vezes somos nós que não queremos ver o caminho, quando afinal ele está ali só esperando pelo nosso primeiro passo.
Boa! Fico feliz por ti! E também com alguma inveja das coisas que tens podido usufruir. ;p
É o baloiço, é o baloiço...
:)
K - Sim acredita que é de ficar, os bilhetes são tão caros que é um privilegio! :)
Paulo - Ou como dizia o Herman quando tinha piada, a vida é como um interruptor, ora para cima, ora para baixo!
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