quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Invernos

Faltavam 10 minutos para a hora acordada, tirou do roupeiro o vestido vermelho novo, que se colava perfeito ao corpo, calçou as sandálias de salto alto que a faziam sempre sentir-se mais segura de si.
Escovou o longo cabelo castanho, já salpicado aqui e ali de fios brancos que lhe conferiam um certo ar de classe, pintou os lábios de rosa claro, riscou a parte de baixo dos olhos e o rimmel para lhe marcar o olhar sensual.
Embora estivesse perto dos 40 sentia-se bem no corpo que tinha apesar deste ter já perdido alguma da frescura de outros tempos, a vida não a tinha tratado mal, ainda sem rugas marcadas e com firmeza nos músculos, olhava-se ao espelho e sentia-se gloriosa.
Ele trazia nos bolsos a promessa de uma nova primavera, era brilhante no raciocinio, tinha um sorriso franco que a conquistava de cada vez que se rasgava, ela sentia-se como uma adolescente apaixonada, desejava-lhe o corpo bem torneado e de cada vez que se aproximavam imaginava-lhe o sabor dos lábios, hoje era o dia em que ia satisfazer a curiosidade.
Estava na hora, dirigiu-se à varanada na esperança de ver aproximar-se o carro branco, mas apenas vislumbrava a monotonia dos muitos carros cinzentos que circulavam.
Foram algumas as vezes que as suas vidas se tinham cruzado, e ela sempre tivera a certeza de que ele iria um dia reparar na profunda admiração e respeito que lhe tinha, e no desejo contido que lhe atormentava as noites, num fim de tarde longo e difícil abriu-lhe a alma e teve por resposta o sorriso que tanto adorava.
A hora do jantar aproximava-se, ele estava atrasado, agarrou-se ao telemóvel esperando notícias, uma palavra, um sinal, sentou-se no sofá, levantou-se e foi de novo à varanda com a expectativa espelhada na cara.
Preocupou-se, , perdeu o sorriso e ansiosa começou a pensar que de certeza alguma coisa lhe teria acontecido, pegou no telefone e ligou-lhe, mas apenas ouviu do outro lado a mensagem do voice mail enquanto percorria nervosa o caminho que mediava entre a varanda e o sofá.
Sentou-se em silêncio de telefone na mão olhando o vazio da parede branca, levantou-se e foi para o quarto, deitou-se em cima da cama adormeceu com sulcos negros a marcarem-lhe o rosto, e com a alma rasgada de dor, a primavera não chegara e o inverno apresentava-se impiedoso.

6 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Da próxima vez ela que tente espreitar de uma varanda e não de uma varanada, pode ser que a coisa corra melhor.

FATifer disse...

Interessante… é para continuar ou fica por aqui?

Beijinhos,
FATifer

PS - apenas uma picuinice minha, os lábios não ficariam melhor de vermelho para condizer como o vestido? :P (sim já há algum tempo que não “embirrava” contigo!) ;)

Gata2000 disse...

Rafeiro - Que porra! Não se pode cometer um erro, e o pior é que dei por ele e o corrigi, e depois ao publicar esta porcaria não assumiu :P
Tu é mau!!!

Gata2000 disse...

FATifer - Não sei se é para continuar, hoje foi o que saiu :)

PS: Não. O vestido era suposto ser o ponto forte, o batom apenas discreto, se a senhora queria acabar a noite a trocar fluídos, parece-me apropriado o batom não deixar marcas por aí além.

FATifer disse...

:)

Beijinhos,
FATifer

PS - … ok, pensas em tudo, you win! :)
PS2 – gostei da expressão “trocar fluídos”, muito romântica! :P … LOL

Gata2000 disse...

FATifer - Nem tudo tem de ser romântico, porque não ser apenas realista de vez em quando?
É já agora, não embirraste desta vez, foi um ponto válido o teu, e além do mais eu gosto quando tu "embirras", fazes-me pensar!