terça-feira, 28 de abril de 2009

Julgamentos

Nunca fui adepta de julgamentos, não gosto que olhem para mim e me julguem pela minha aparência - porque o que conta está cá dentro e pode não parecer mas tenho o fígado num brinquinho.

Não costumo olhar para a senhora que está atrás do balcão e julgá-la pelo trabalho que desempenha, até porque um dia fui ao Lidl e na caixa estava uma rapariga que tinha sido minha colega de faculdade - aquele lugar podia ser o meu.

Ontem comentava com uma pessoa do teatro que a ópera da noite era das piores que já tinha visto e ela concordou, mas foi dizendo que depois de se ler as críticas é fácil estar atenta - eu informei-a de que tinha visto a peça antes da crítica, sei fazer a minha própria crítica, não preciso de ler o que os outros pensam primeiro. Disse-lhe também que por acaso até nem concordava com os críticos que dizem que a "Agrippina" é pior que a "Salomé" - as duas óperas que estão em cena no Teatro São Carlos - disse-lhe que por acaso achava que os cantores da primeira são mauzinhos, mas que não concordo com as más criticas musicais, e que relativamente à encenação então, não há comparação possível a "Salomé", nos cerca de 6 anos que trabalho no teatro é a pior que já vi.
Ela respondeu-me: "A menina não pode criticar o que não conhece."
Ora a sua formação musical, de acordo com as suas próprias palavras são nulas, mas já agora as minhas não.
A menina, embora esteja a fazer um part time em que entrega convites, teve 8 anos de formação musical, ao olhar para uma partitura consegue distinguir a clave de sol, das colcheias e semi colcheias, aprendeu a tocar flauta e (quase) aprendeu a tocar viola, tenho 3 amigos que são disco jockeis, cresci a ouvir Amália, Alfredo Marceneiro, Zeca Afonso, Rolling Stones, Pink Floyd e Dire Straits, antes de ter opinião formada sobre música.
O meu filho ouve Mozart desde que estava na minha barriga e todos os dias adormece ao som de música clássica, já foi ver uma ópera para crianças, "A Flauta Mágica" e no carro conduz a orquestra como um verdadeiro mestre e quando alguém lhe pergunta o que quer ser quando for grande diz que é maestro.
A minha primeira ópera foi a Aida, creio que tinha uns 14 anos.
Só porque desempenho um trabalho que considera menor no teatro, isso não significa que EU seja menor...antes de fazermos juízos de valor sobre alguém conviria sabermos quem a pessoa é.

Já a senhora que procede aos pagamentos pelos serviços prestados nos Teatro, está habituada a lidar com crianças, pelo que é natural que ao falar comigo me diga que fez a transferência há já 2 dias, mas que como são bancos diferentes...pode demorar. O que a senhora não sabe porque não se deu ao trabalho de ler o meu CV é que eu sou Financeira, pelo que tudo o que ela me possa eventualmente dizer para atirar areia aos olhinhos eu digo aos meus clientes e principalmente aos meus fornecedores nos últimos 5 anos, e antes disso trabalhei num banco, além do mais parecendo que não até sou uma pessoa informada, sei que as transferências bancárias processadas até às 15 horas são feitas no mesmo dia, independentemente do banco, no dia seguinte se for depois das 15. Em dia de azar, se o batch estiver em baixo...passados 2 dias, nunca ter o dinheiro disponível na terça feira da semana seguinte quando disse que tinha procedido à transferência na quinta feira anterior.

As coisas que se podiam evitar se não nos precipitássemos a julgar as pessoas pelas aparências...é que o QUE SOMOS, não é o QUE FAZEMOS.

17 comentários:

Maria disse...

Subscrevo!

beijinho

TM disse...

E depois quem o faz demonstra tanto sobre si...

BlueVelvet disse...

Tens toda a razão.
E cada vez mais há que ter esse cuidado.
Beijinhos

Pax disse...

Exactamente!

E esses julgamentos precipitados acontecem a cada momento, em todo o lado.
E também acho que até nós, que temos consciência disso, também nem sempre os conseguimos evitar em relação a terceiros.
Falo por mim, que ainda que o tente não fazer, é quando estou num semáforo e vejo algum moçoilo mal vestido e de rabo-de-cavalo (que até poderia ser algum violoncelista de renome) que me lembro de que não tranquei as portas... lol.

Beijos :)

Gata2000 disse...

Who Am I - E eu que pensava que ia ser incompreendida.

Gata2000 disse...

TM - é um facto, sabemos logo com quem estamos a lidar!

Gata2000 disse...

BlueVelvet - Sim que a crise está cada vez mais a alterar as nossas convicções.

Gata2000 disse...

Pax - Sim...é um facto, mas correndo o risco de parecer igual às senhoras de que falei, se ele estiver no semáforo mal vestido e com ar de quem te vai lavar os vidros...o melhor é fugir!! LOL (eu nunca tranco as portas)

Cem disse...

Em pleno sec.XXI ainda persiste a tendência para subestimar os desconhecidos que estão num cargo supostamente "inferior"

sabes de algum génio que não tenha sido subestimados?!

Há por aí muita alma mesquinha, infeliz_mente!!

Quanto ao resto nada mais a acrescentar, sabes do que és "feita" e o quanto "vales" e isso é uma conquista de que nem todos se podem orgulhar!

Beijokas minha linda

Pax disse...

Eu tranco as portas sempre que me lembro, ou seja, sempre que vejo alguém com ar de violoncelista-de-renome-mas-que-se-esqueceu-de-tomar-banho-no-último-ano ;)
Tranco se ele estiver a uma distancia em que não ouça o clic... que não gosto de ferir susceptibilidades! Lol. (E falando por mim também... somos uns seres tão cínicos, não é verdade?)

Rafeiro Perfumado disse...

Tanta conversa e o que deverias ter feito era ter dado uma cabeçada à tipa...

Anónimo disse...

Epá, há tanta gente assim no mundo...
Mas, concordando com a Pax, reconheço que de vez em quando (penso que pouco, porque sou despistada por vezes) tenho feito algum julgamento sem fundamento de alguém.

Gata2000 disse...

Cem - a questão que podemos colocar é...quais são os lugares menores? é que se eu não estiver lá para entregar os convites, quem tem de entregá-los...é ela!
Quanto a mim sei bem quem sou, posso ter dúvidas relativamente a muitas coisas, mas não em relação a essa questão metafísica!

Gata2000 disse...

Pax - Curioso, lembro-me da ultima vez que pensei: "olha ali está alguém com ar de quem me fazia a folha se pudesse, mas a quem eu não vou dar essa "abébia" porque vou trancar a porta", sim já me aconteceu, e tentei fechá-la sem que o senhor desse por isso, para não ser evidente. Mas uma coisa é tu teres receio de ser assaltada no semáforo por alguém que está a mendigar, outra coisa é fazeres cara feia ao senhor que te serve o café, só porque ele veste um avental e está do lado errado do balcão. É que eu como já estive do outro lado do balcão, sei bem como é.
Eu trabalhei em diversas agências bancárias durante cerca de 4 anos, um dia houve uma senhora que se virou para mim enquanto esperava que o cheque que tinha passado - e que não tinha provisão - fosse autorizado a pagamento pelo balcão gestor da conta dela. Ora eu tinha de enviar o cheque por fax para o outro balcão e aguardar que fosse autorizado, ou não, antes de lho pagar. Como aquilo nunca mais se despachava e ela estava com pressa, virou-se para mim e disse-me com o ar mais ... rancoroso que possas imaginar: "se a senhora fosse COMPETENTE isto não acontecia, tenho é vontade de saltar o balcão e enviar o fax eu."
Ou seja, não era só o dinheiro na conta que estava em baixo naquela senhora, era também a educação.

Gata2000 disse...

Rafeiro - ainda pensei em deitar as garras de fora e deixá-la marcada para a vida, mas ela é bonita...

Gata2000 disse...

Cris - Quem nunca o fez que atire a primeira pedra, eu juro que não atiro nenhuma, porque embora não me lembre assim de repente de nenhuma ocasião...gritante, devo tê-lo feito certamente, mesmo que de forma insconsciênte. é da natureza humana como diz a PAX, e já agora o cinismo também, e eu...confesso, se há coisa onde eu me sinto como peixe na água é a ser cínica para quem se mete comigo!

Pax disse...

É mesmo.
Situações dessas veem-se todos os dias e em todo o lado. Eu já tive, mesmo aqui na net, algumas "discussões" por causa desse tipo de coisas, de pessoas que, por estarem momentaneamente como "clientes", se julgam no direito de serem mal educadas ou desagradáveis para com quem as "serve".
Eu também lido com o público, embora não haja balcões pelo meio e sei o que são essas situações. Por isso mesmo, por ter isso sempre presente, dificilmente me apanhariam numa situação em que destratasse de algum modo quem está atrás de um balcão. E, principalmente, se notar que é uma pessoa inexperiente ou nova no lugar.
Mas há de tudo, formação e educação é que nem sempre.

Beijos :)