terça-feira, 21 de abril de 2009
Ser, humana
Ontem vi o teu irmão enquanto escolhia onde ir almoçar nos muitos restaurantes do Centro Comercial. Estaria na mesma não fosse os muitos cabelos brancos que lhe povoam a cabeleira.
Cruzei-me com eu creio que 3 ou 4 vezes, ele nem deu por mim.
Da primeira vez que o vi pensei que devia tê-lo cumprimentado, perguntado como lhe corria a vida, tentar saber de ti, o que estavas a fazer, como te sentias, se haveria alguma alteração no teu estado, mas ele passou tão rápido que nem tive tempo de ver para onde tinha ido.
Voltei a vê-lo estava ele a levantar dinheiro no multibanco, pensei que não era o momento mais oportuno. Mais uma vez lembrei-me de ti, que não tenho notícias tuas há mais de 4 anos, não sei como estás e tu não sabes que casei e que já tenho um filho. Tenho a certeza que ias gostar de conhecer o Alexandre.
Enquanto passeava olhando vagamente as montras, ouvi o teu irmão falar do sinal de televisão em Angola, pensei se te terias mudado para lá com os teus pais, pensei em voltar-me para lhe perguntar por ti, para lhe pedir que te dissesse que não passou um dia nestes últimos 11 anos que não me tivesse lembrado de ti, para lhe dizer que preciso do teu perdão, mas acobardei-me
Precisava de saber que tens consciência que o facto de te ter por perto me faz doer as cicatrizes que trago na perna, na testa, no pulso e no dedo; que o som do metal a dobrar se torna muito mais audível; que as feridas voltam a abrir; que volto a pensar porque te terá Deus escolhido a ti e não a mim, e volto a agradecer a Deus o facto de te ter escolhido.
És o único esqueleto no armário que não consigo trazer à luz do dia, é-me demasiado doloroso ter-te por perto por ter a perfeita consciência que te abandonei na altura em que mais precisavas de mim. Saber-te, faz de mim a pessoa que gostaria de não ser, porque não consigo lidar com a dor de te ter perdido como te conhecia, de não ter sido capaz de estar à altura do título de amiga que me davas, por não conseguir ultrapassar o facto de que cada momento passado na tua presença é reviver o momento em que tudo mudou.
Ontem vi o teu irmão, como tenho visto diversas vezes nos últimos 2 anos. Talvez na próxima vez que o vir ganhe coragem e lhe pergunte por ti, e lhe peça que me perdoes por ser apenas humana.
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16 comentários:
Nem tenho palavras para comentar...
de facto um texto sentido!! Muito sentido!...
Beijos
LionMaster - Com os sentidos à flor da pele.
Abraço-te!
Maria - beijo-te!
às vezes parece que a voz falta quando a alma grita ...
Cristiana - Eu não teria dito tão bem!
Eles dizem que errar é humano e perdoar é divino... por isso não te censures dessa maneira... se somos humanos nunca seremos perfeitos... E assumir um erro é o primeiro passo para encontrar o caminho certo....
Não deixes passar mais tempo. Pergunta!
Abraço
Sabes as palavras que não se dizem...magoam.
beijinho
Um texto daqueles que não retrata apenas a tua história e que nos deixa a todos a pensar o que fazemos com as nossas acções.
Quanto a ti vais concerteza conseguir um dia!
Estamos todos a torcer por ti =)
TM - Eu sei qual é o caminho, o problema é que é tão doloroso caminhá-lo que me inibo.
Toze - Talvez um dia ganhe coragem.
WAI - Mas há presenças que tornam alturas más da nossa vida tão presentes que não temos como as confrontar e então...fugimos
xarah - se estiverem todos a trocer por mim...bem então com tanta energia positiva um dia chego lá!
Se há uma coisa que admiro em ti é a coragem com que pões no teu blog, coisas tão pessoais como esta.
Eu não sou capaz.
Mas,mesmo desconhecendo as razões subjacentes a esta questão, embora deduza que há um acidente de automóvel envolvido, nao acho que devas penalizar-te assim.
Há feridas da alma que levam mais tempo a cicatrizar que as da alma. Algumas nunca cicatrizam.
Em todo o caso, e como muito bem dizes, és humana, podes errar, se é que erraste,e isso não te torna pior como ser humano.
Culpabilizares-te param não.
Sentes o que sentes, e um dia, se dia chegar, farás as pazes contigo mesma.
Deixo-te uma abracinho apertado
Bluevelvet - é exactamente isso, a dificuldade de cicatrizar as feridas da alma. e sim, foi um acidente de automóvel.
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