quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Por alturas de eleições, recordar é viver

Artigo do Manuel António Pina, no Jornal de Notícias de 28 de Agosto de 2008


Tempo de autocrítica

É impossível não ver no programa eleitoral do PSD ontem apresentado, e
no anúncio pela dra. Ferreira Leite de políticas de firme combate a
medidas da dra. Ferreira Leite, a mão maoista (ou o que resta dela) de
Pacheco Pereira, a da autocrítica.

Assim, se a chegar ao Governo, a dra. Ferreira Leite extinguirá o
pagamento especial por conta que a dra. Ferreira Leite criou em 2001;
a primeira-ministra dra. Ferreira Leite alterará o regime do IVA, que
a ministra das Finanças dra. Ferreira Leite, em 2002, aumentou de 17
para 19% ; promoverá a motivação e valorização dos funcionários
públicos cujos salários a dra. Ferreira Leite congelou em 2003;
consolidará efectiva, e não apenas aparentemente, o défice que a dra.
Ferreira Leite maquilhou com receitas extraordinárias em 2002, 2003 e
2004; e levará a paz às escolas, onde o desagrado dos alunos com a
ministra da Educação dra. Ferreira Leite chegou, em 1994, ao ponto de
lhe exibirem os traseiros. No dia anterior, o delfim Paulo Rangel já
tinha preparado os portugueses para o que aí vinha: "A política é
autónoma da ética e a ética é autónoma da política".

10 comentários:

Pax disse...

Que insinuações tão maldosas!
Eu acho é que os políticos são criaturas tão divinas que estão constantemente a receber raios de iluminação que os faz virar a casaca consoante não o que lhes dá jeito mas sim o que é melhor para os fieis: serem felizes porque acreditam.

Ah! E "ética" e "política" são palavras que nunca fazem sentido numa mesma frase!

Gata2000 disse...

Pax - Eu ontem estive numa reunião politica, depois de 3 anos de afastamento. Foi assim como que uma licensa sabática para pensar bem no que quero da vida, e também para me desmarcar do que foi sendo feito no decorrer dos ultimos 4 anos e cujo rumo eu não estava de acordo. É tica e política podem estar na mesma frase, mas são tãos raras as vezes que normalmente pensamos..não pode ser, não é verdade. Foi o que me aconteceu ontem, ao ouvir nessa mesma reunião alguem exigir que seja adoptado um código de conduta para os próximos 4 anos, na governação de uma simples junta de freguesia.

(só para nós que ninguém nos ouve, se isso conseguisse ter pernas para andar, eu ia gostar muito de fazer parte do inicio da solução da transparência que tanta falta faz à política e aos políticos em geral, aqui em Portugal, como no mundo).

K disse...

Ética? A ética é algo que não só não está presente na política, como não está presente na maioria das pessoas e na sua conduta. Os políticos não são mais do que o espelho de uma sociedade.

Gata2000 disse...

K - Concordo contigo. O meu avô, com 80 anos costuma dizer que Portugal não merece os políticos que tem, ao que eu invariavelmente lhe respondo que sim, que os merece, porque eles são o fruto do país que temos. Um país que acolhe a mediocridade, um país onde só se safam os crápulas, onde os negócios escuros fazem parte do quotidiano e não há por isso ninguém que os critique muito menos que os condene.Um país invejoso, do colega do lado porque ganha mais, ou do vizinho da frente porque comprou um carro novo, ainda que para isso se tenha endividado. Um pais que vive das aparências, onde ser doutor é um veiculo para se ser pobre, mas pelo menos se ter um titulo.
Merecemos muito bem os politicos que temos, porque não levantamos o cu para ir votar, nem que seja em branco para demonstrar desagrado pelo mau trabalho que desempenham aqueles que deveriam ter por objectivo o desenvolvimento do país e não o enriquecimento proprio através dos favores, dos fechar de olhos, dos enganos, das trafulhices.

Cristiana disse...

Gataaaaa,

Ora ora desde quando é que política e memória são palavras conjugáveis???

Um mau político tem boa memória um bom político deve nem saber o que isso é!

;p

Gata2000 disse...

Cristiana - Talvez por isso eu nunca serei política. Porque tenho memória e gosto de ser boa em tudo o que ponho a minha alma.
Ora lá está, ALMA...outra palavra que não liga bem com política.

Cristiana disse...

Gata,

Ora e mais haveria que apontar!

"gosto de ser boa em tudo", pronto coisinha para seres muito má política!

Pax disse...

Sabes o que acho?
Acho que algo muito estranho se passa entre os momentos em que alguém tem, realmente, vontade para fazer algo de útil à sociedade e o momento em que passa a ter o poder para realizar essa função.
Acho que quem tem uma idealogia, acredita mesmo no que pode fazer mas quando chega ao momento de o realizar parece que algo já, entretanto, mudou.
Será que as pessoas que agora tanto nos desagradam com a sua conduta e falta de ética não foram em tempos crentes entusiastas de que poderiam tornar o país melhor? Será que acham, ainda, que é assim que o farão?

Gata2000 disse...

Cristiana - Pois! Mas ainda assim, vou tentando dar o meu humilde contributo, na esperança de que as coisas mudem, porque acredito que se todos fizermos o nosso melhor, é meio caminho andado para um mundo um pouco menos ... mau. E porque acredito que cada um de nós consegue, se quiser dar o seu melhor.
Nas palavras do senhor que idealizou a campanha do presidente Obama (não faço puto de ideia quem tenha sido), yes we can!

Gata2000 disse...

Pax - Vou falar-te, como sempre, com o coração. Do que já tenho visto, de perto, o que dizes é mesmo assim.

Todos os que já me desiludiram na política fizeram-no porque me criaram expectativas de serem pessoas diferentes, de acreditarem no que preconizam para o futuro - a minha "liga" é de 3ª divisão, por isso só posso falar do que vejo a nível local, embora tenha amigos nas "ligas" de honra e na linha da frente, e o que acontece no meu pequeno mundo em escala milimétrica acontece exponencialmente nas restantes.

Poucos foram os que conheci que entraram na política pelo "tacho", também os há, não nego. A maioria entregou-se à causa pública para servir, para tentar melhorar a sua rua, a sua terra, o seu país. Acreditaram que conseguiam melhorar a vida dos que lá moram, dos que lá trabalham, dos que lutam para viver e não poucas vezes para sobreviver.
Entretanto confrontaram-se com as dificuldades do poder instalado, dos compadrios, da corrupção. Quando aí se chega há dois caminhos, ou lutas com todas as tuas forças e acabas derrotado, ou juntas-te a eles. Muitos foram os que se lhes juntaram, esses desiludiram-me, e afastei-me.
Outros, não muitos, continuam a dar a cara por um mundo mais justo, embora já sem a inocência do passado, mas com a crença de que se tentarmos mudar pelo menos uma virgula, estamos no bom caminho.
Alguns, decidiram não trair as suas convicções, e não são poucas as vezes que os vi serem despojados do brilho que emanam, não poucas vezes os vi cair no chão e ganhar forças para se levantarem, pela certeza do que acreditam, pela certeza que se cada um de nós fizer aquilo que sente com o coração já mudou alguma coisa.
É por estes últimos que voltei, é por estes últimos que vou bater o pé e sentar-me do seu lado, dar-lhes a mão, perder noites, e prejudicar o tempo de qualidade que poderia ter com o meu filho, em prol de uma campanha eleitoral que está à partida (quase) perdida, e vou fazê-lo porque tenho a certeza que aqueles que defendo - e defendo-os como uma gata, com unhas e dentes - são muito melhores do que os adversários, e porque acredito que não farão no futuro aquilo que todos sabemos estar a ser feito no presente.