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Foi ontem que ela me bateu à porta, sob a forma de uma insónia, que teimava em não desaparecer.
Hoje sei que o que fomos ontem não é o que somos hoje e certamente não o que seremos amanhã, mas sei também que as sensações que partilhamos e a cumplicidade de nos une nunca esqueceremos.
Sei que não voltarei à H
ungria para:
- Conhecer os meus companheiros de viagem para os próximos 4 anos de férias;
- Percorrer as ruas de Budapeste, debaixo de chuva por 2 horas, porque “os bares baratos são já ali”;
- Perguntar a dezenas de pessoas, em húngaro onde fica a “noite”, e ter dois árabes a indicar o caminho, em português;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Ter um polaco a deitar-se em cima de mim, não por se ter perdido de amores por mim, mas porque tinha acabado de cair para o lado de bêbado;
- Ver o Edgar dirigir-se a uma italiana e dizer-lhe “oh porca queres vir para a festa?”
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- Grandes paixões por tantas nacionalidades como por exemplo italianos, espanholas e outros que agora não me lembro;
- Cantar a “Grândola Vila Morena” em cima de um palco.
Sei que não voltarei à
Áustria para:
- Conhecer o padrinho de baptismo do meu filho;
- Ouvir os austríacos mandarem-nos para a nossa terra;
- Andar de autocarro sem pagar, porque não existe revisor;
- Ver os bonecos nos jornais que estão espalhados pelos candeeiros de rua de Viena, em cestos de plástico abertos, com uma caixinha de moedas ao lado;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- Entalar os dedos numa porta de ferro e só dar por isso no dia seguinte;
- Meter a cabeça debaixo do torneira, para tentar beber água;
- Acordar com os pés da Vanessa na cara e ela a dizer-me: “Miau, eu enganei-me”;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades tais como italianos, espanhóis, polacas, italianas, espanholas, e outras que não me recordo;
- E os teus tennis serão sempre brancos amiga, mesmo depois de terem passado 2 semanas dentro de lama, se é o que te faz feliz.
Sei que não voltarei à
Grécia para:
- Conhecer o meu padrinho de casamento;
- Roubar espetadas de porco da grelha;
- Fumar cachimbo de água no café do Naifa até ficar sem voz;
- Olhar mar dentro e achar que a vista é linda, até que olho para a esquerda e penso, “mas aquilo é uma central termonuclear, ou apenas uma plataforma de petróleo?”;
- Ouvir o Gonçalo perguntar “está aí alguém?” e tentar explicar à Ulla como se faz uma pega de caras “Oh vaca linda!”
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Ser arrastada em braços 2 horas pelo acampamento porque estou bêbeda, e quero que me levem ao Posto Médico, mas que não me dêem uma injecção;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades tais como chilenas, polacas, servias, búlgaras, gregos, e outras que se me varreram;
- As festas de pasta italiana e sangria portuguesa;
- Cantar o “Canoa” em palco.
Sei que não voltarei à
Roménia para:
- Conhecer em Bucareste um americano que acha que a democracia é o espaço que fica entre a palma da mão dele e o gatilho da sua arma;
- Saber que é possível, depois de umas 10 caipirinhas uma mulher ter orgasmos “mulstisplos”;
- O David me segredar ao ouvido “si a ti te gusta a mi me encanta”, enquanto dançamos;
- Acordar com um gafanhoto na almofada;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- As festas de pasta italiana e sangria portuguesa;
- Saber que o Zé depois de apanhar a sua primeira bebedeira da vida continua a ter 3 prioridades;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades tais como belgas, polacas, búlgaras, e outras que se me varreram;
- Ter cigarras a cair do céu e já não me incomodarem, ainda que me caiam na cabeça.
Sei que não voltarei a
Alicante para:
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- As festas de pasta italiana e sangria portuguesa;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades;
- Não acampar porque estou grávida;
- Passar o dia inteiro na praia, dentro de água quente, e ver a minha barriga mexer-se, porque o Alexandre quer continuar na água quentinha.
Há aventuras que não voltam a acontecer, mas as lembranças são nossas e teremos sempre o “Bella Ciao”, para manter viva a saudade.