quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Saudade
Foi ontem que ela me bateu à porta, sob a forma de uma insónia, que teimava em não desaparecer.
Hoje sei que o que fomos ontem não é o que somos hoje e certamente não o que seremos amanhã, mas sei também que as sensações que partilhamos e a cumplicidade de nos une nunca esqueceremos.
Sei que não voltarei à Hungria para:
- Conhecer os meus companheiros de viagem para os próximos 4 anos de férias;
- Percorrer as ruas de Budapeste, debaixo de chuva por 2 horas, porque “os bares baratos são já ali”;
- Perguntar a dezenas de pessoas, em húngaro onde fica a “noite”, e ter dois árabes a indicar o caminho, em português;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Ter um polaco a deitar-se em cima de mim, não por se ter perdido de amores por mim, mas porque tinha acabado de cair para o lado de bêbado;
- Ver o Edgar dirigir-se a uma italiana e dizer-lhe “oh porca queres vir para a festa?”
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- Grandes paixões por tantas nacionalidades como por exemplo italianos, espanholas e outros que agora não me lembro;
- Cantar a “Grândola Vila Morena” em cima de um palco.
Sei que não voltarei à Áustria para:
- Conhecer o padrinho de baptismo do meu filho;
- Ouvir os austríacos mandarem-nos para a nossa terra;
- Andar de autocarro sem pagar, porque não existe revisor;
- Ver os bonecos nos jornais que estão espalhados pelos candeeiros de rua de Viena, em cestos de plástico abertos, com uma caixinha de moedas ao lado;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- Entalar os dedos numa porta de ferro e só dar por isso no dia seguinte;
- Meter a cabeça debaixo do torneira, para tentar beber água;
- Acordar com os pés da Vanessa na cara e ela a dizer-me: “Miau, eu enganei-me”;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades tais como italianos, espanhóis, polacas, italianas, espanholas, e outras que não me recordo;
- E os teus tennis serão sempre brancos amiga, mesmo depois de terem passado 2 semanas dentro de lama, se é o que te faz feliz.
Sei que não voltarei à Grécia para:
- Conhecer o meu padrinho de casamento;
- Roubar espetadas de porco da grelha;
- Fumar cachimbo de água no café do Naifa até ficar sem voz;
- Olhar mar dentro e achar que a vista é linda, até que olho para a esquerda e penso, “mas aquilo é uma central termonuclear, ou apenas uma plataforma de petróleo?”;
- Ouvir o Gonçalo perguntar “está aí alguém?” e tentar explicar à Ulla como se faz uma pega de caras “Oh vaca linda!”
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Ser arrastada em braços 2 horas pelo acampamento porque estou bêbeda, e quero que me levem ao Posto Médico, mas que não me dêem uma injecção;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades tais como chilenas, polacas, servias, búlgaras, gregos, e outras que se me varreram;
- As festas de pasta italiana e sangria portuguesa;
- Cantar o “Canoa” em palco.
Sei que não voltarei à Roménia para:
- Conhecer em Bucareste um americano que acha que a democracia é o espaço que fica entre a palma da mão dele e o gatilho da sua arma;
- Saber que é possível, depois de umas 10 caipirinhas uma mulher ter orgasmos “mulstisplos”;
- O David me segredar ao ouvido “si a ti te gusta a mi me encanta”, enquanto dançamos;
- Acordar com um gafanhoto na almofada;
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- As festas de pasta italiana e sangria portuguesa;
- Saber que o Zé depois de apanhar a sua primeira bebedeira da vida continua a ter 3 prioridades;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades tais como belgas, polacas, búlgaras, e outras que se me varreram;
- Ter cigarras a cair do céu e já não me incomodarem, ainda que me caiam na cabeça.
Sei que não voltarei a Alicante para:
- Ouvir o Pedro dizer que foi considerado o homem mais bêbado do acampamento;
- Festas de grandes excessos todas as noites, toda a noite;
- As festas de pasta italiana e sangria portuguesa;
- Grandes paixões por diversas nacionalidades;
- Não acampar porque estou grávida;
- Passar o dia inteiro na praia, dentro de água quente, e ver a minha barriga mexer-se, porque o Alexandre quer continuar na água quentinha.
Há aventuras que não voltam a acontecer, mas as lembranças são nossas e teremos sempre o “Bella Ciao”, para manter viva a saudade.
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8 comentários:
mas algo me diz que ainda vais ter muitos bons momentos para ir preenchendo o diário
Vais vais
e hoje já é outro dia!
Beijinho
Cem - Claro que sim! Os momentos que passei não volto a vivê-los, mas há muita vida ainda pela frente para me aventurar por outras paragens, com outras pessoas, novas sensações.
Não sei!
Não me lembro!
(diz-se que recordar é viver, então porque é que eu morro de saudades)
Pode até ser que não voltes a fazer isso tudo, mas que já te divertiste que nem uma perdida, isso é verdade.
E eu morri de rir a ler-te.
Só por curiosidade: o Pedro ainda não tem uma cirrose??
Beijokas
Amigaaaaaa! Emocionei -me com o teu texto.. Senti-me tão feliz por já termos vivido tantas aventuras. Tão nossas... Tanta cumplicidade... Tanto disparate. E acredito que ainda iremos viver muito mais! Nem que seja nas excursões da 3ª idade! Faltou a parte em que espalhei a minha visão futura da tua gravidez... e de repente os votos de felicidade choviam em todos os idiomas! E a canção que cantámos nesses países todos.... a mítica maia! E quando fomos à opera em viena, que não tivemos tempo para trocar de roupa e fomos de jeans sujos de relva... Jantámos a bordo, no Danúbio... E naquela discoteca grega, em que os nossos meninos estavam encantados com as gregas e elas queriam saber o nosso signo, e nós pensámos: "oh filha, mas isso na tua terra ainda pega???!!". E em Bucareste quando fomos à pior discoteca do mundo, mas as caipirinhas eram de 2 litros e custavam 50 cêntimos.... Há tanta história. E isso deixa-me tão feliz... E saber que o tempo até pode passar, mas tu estás sempre lá... a limpar-me as lágrimas e a dizer: "pronto amiga... os teus ténis são brancos! Serão sempre brancos.". Porra, gosto tantooooo de ti! Já nem imagino o meu mundo sem ti... Porque mais ninguém conseguirá entender porque me conforta saber que os meus ténis depois de 2 semanas na lama... continuam brancos. Love u!
Vitor - Olha que depois de ler o teu comentário até se pode pensar que não estavas lá.
BlueVelvet - Acredita que a última vez que vi o Pedro, a semana passada, fiquei estarrecida. Já não o via há uns meses e o homem tem feito uma dieta de lady e não é que está pela metade, e segundo as más linguas, depois de ter papado uma aviadora bielorussa nunca mais foi o mesmo. Temo que ainda continue a embebedar-se da mesma foram pelo menos 1 mês por ano, que é um dos objectivos de vida dele, sim podes rir-te. Mas é boa pessoa, ele é que não sabe!
Vanessa - Tu não podes aparecer aqui de vez em quando e fazer-me chorar assim desta forma. Já são muitas vidas as que vivemos juntas que já não precisamos de falar para saber o que a outra precisa. Love u too babe.
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