quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Como arruinar uma vida



And I know it aches
And your heart it breaks
And you can only take so much
Walk on, walk on


Quando a Sandra foi finalmente promovida, passou para o departamento financeiro, que era o seu lugar natural, passou a tratar de tudo o que era possível naquela área, tendo em conta que o director não aparecia mais de 1 a 2 vezes por ano, e ela suspeitava que era para ir buscar o cheque e que a contabilidade era feita numa empresa de outsourcing.

Num departamento até à altura inexistente, foi-lhe solicitado que fizesse reconciliações bancárias diárias, orçamentos de tesouraria, verificação de desvios, controlo de crédito, emissão de cheques, planos de pagamentos, recebimentos, factoring. Como compensação pelo aumento da responsabilidade foi-lhe atribuído um aumento de ordenado que veio sob a forma de isenção de horário.

Passado um ano engravidou, no último mês foi para casa, por conselho médico, tendo-se no entanto disponibilizado para sempre que necessário estar disponível. Por essa altura foi-lhe sugerido ficar com a contabilidade da empresa uma vez que a empresa de outsourcing se iria desvincular. Ela recusou, sabia que a contabilidade era um dos seus pontos fracos, nunca tinha tido contacto real com a área à excepção dos anos de faculdade, conhecia as suas limitações.

Quase no fim da sua licença de maternidade a Sandra recebeu um contacto telefónico do Director da empresa, perguntando-lhe se ainda ia voltar, ao que ela respondeu naturalmente que sim. “Sabes que te vai ser retirado dinheiro, porque como vais ter horário reduzido não precisas de isenção de horário”

Quando voltou esteve 1 mês sem secretária para se sentar e sem computador, no seu lugar havia já uma pessoa que tratava da contabilidade, foram-lhe retirados todos os subsídios que tinha tido até então, o que resultou numa redução de 30% do seu ordenado, foi colocada na recepção e disseram-lhe que era muito importante para a empresa que ela ficasse a tratar dos fornecedores e a atender telefones.

Passaram-se 2 anos e a Sandra continua na mesma situação, sem funções, humilhada na sua profissão, tentando encontrar uma explicação para o que lhe aconteceu, questionando as suas capacidades e o seu profissionalismo.

Em conversa com o Presidente, há cerca de um mês atrás foi informada de que tinha ficado “de castigo”, porque aquando da atribuição da isenção de horário nunca tinha ficado as 2 horas a que era “obrigada”, embora nunca tenha deixado trabalho por fazer para o dia seguinte, nem nunca se tivesse recusado a ficar até às 11 da noite sempre que foi preciso organizar o conselho de administração do dia seguinte.

Ainda há muitas mulheres (homens também os há, embora menos) que são castigadas por serem mulheres, por terem filhos, por terem noção das suas capacidades ou porque simplesmente não ficam depois de terminado o horário de expediente.

4 comentários:

Anónimo disse...

Graças a seja lá o que fôr, no ámbito da minha profissão não tenho que lidar com isto, mas isso não me impede de saber que existe, que há demasiadas pessoas que se vêem colocadas numa posição claramente inferior à que deveriam ocupar.
Infelizmente, en alguns casos são penalizadas mesmo por serem apenas mulheres,por escolherem ter uma vida fora do trabalho, vida esta que deveria, segundo a lei, ser compatível com a laboral.
Mas a lei é, em alguns casos, aquele catálogo que está em cima da prateleira porque fica bem no conjunto da decoração.
As injustiças dão vontade de fugir. E nem isso se pode fazer!

Gata2000 disse...

Cris - Faço minhas as tuas palavras.

BlueVelvet disse...

E uma acção no Tribunal de Trabalho?
Beijinhos

Gata2000 disse...

BlueVelvet - Está em banho maria, mas há-de aparecer, ai se há-de!