quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A teoria do silêncio

Este fim de semana conclui que o ruído incomoda, desconcentra, pode até levar-nos a cometer erros.

No sábado à noite fui ao teatro, ver um amigo meu em palco, achei hilariante a peça em que ele entrou, achei que ele estava muito bem - não sei há quanto tempo ele faz teatro, mas para mim foi a sua estreia e eu achei maravilhoso!
A peça era de Tchekhov, 2 actos de pura maldade burguesa, muito divertida nas suas intrigas e enganos.
No fim da peça encontrá-mo-nos e eu queixei-me do muito barulho que tinha a sala, ele havia crianças a chorar, mulheres histéricas a rir porque um senhor partiu a cadeira, telemóveis que tocavam aqui e ali, um sem fim de barulhos de fundo, que segundo o meu amigo o incomodaram, e segundo ele foram a razão para os seus (poucos) erros. Conclui: O silêncio compensa, no teatro.

No domingo convidaram-me para ir ver o Benfica-Penafiel no estádio da luz. Não sou adepta, aliás nem gosto muito de futebol, e quando gosto a minha equipa não é nenhuma das mencionadas. Mas o facto de me terem oferecido o jantar e o convívio com alguns dos amigos com que mais me identifico actualmente, fizeram-me sair de casa feliz por ir ver um jogo de futebol.
O jogo foi mau, muito mau. Muitos passes perdidos, muitas falhas nas passagens, pouca garra, pouca convicção. O que o futebol tem de pior é ver um jogo mau em que as equipas não mexem connosco, embora eu ache que uma vez que é um desporto de massas, quando estamos no meio de muitos benfiquistas acabamos por inconscientemente querer que a equipa dos nossos amigos ganhe, não por nós, mas por eles.
O jogo foi a um agonizante prolongamento e finalmente a penaltis. O barulho de 20 mil pessoas pode ser ensurdecedor quando é ao adversário que toca marcar, e estou cá em dizer que o único jogador que não marcou golo se deixou desconcentrar por lhe terem chamado nomes à mãe.

Vi um filme há uns anos atrás sobre um jogador de basebol, não me lembro do nome, só sei que o protagonista era o Kevin Costner, e que quando entrava em campo dizia qualquer coisa como: "Bloquear" e a sua concentração fazia com que deixasse de ouvir o que o rodeava, erigia sobre si uma barreira de silêncio para bater a bola.
Conclui: também no futebol as coisas correriam melhor se fosse um jogo de silêncios.

Na vida como no teatro e no futebol, há alturas em que o silêncio é tão bem vindo, pena que quando o temos não o saibamos apreciar, porque é precisamente quando perdemos algo que julgávamos garantido que este nos faz mais falta.

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