Já explorei o que pensam sobre mim e já me mostrei fisicamente, embora com 14 anos. De então para cá muita coisa mudou, a menina tornou-se mulher!
Nunca me achei uma beleza de parar a trânsito, mas ao olhar para o espelho sei que não sou feia. As duas coisas que me iluminam o rosto são um sorriso "à lá Julia Roberts" - como diz a minha mãe - e um certo brilho nos olhos. Hoje o brilho desvaneceu e quase nunca sorrio. Tenho uma expressão muito dura no rosto, que afasta quem pensa em se aproximar, mas que se amacia depois de ultrapassados os primeiros passos.
Sei que sou boa mãe, tento dar à minha cria todo o carinho e o amor que tenho para dar, e que recebi quando era criança, transmito-lhe os princípios e valores que me transmitiram e fizeram de mim a mulher que sou hoje, na tentativa de que seja uma boa pessoa, sem lhe cingir a personalidade própria.
Tenho noção de que sou boa filha, protejo ao máximo a minha mãe dos problemas que nos assolam. Um dia uma amiga perguntou-me porque eu deixava que a minha mãe fosse tão dependente de mim, se eu "lhe devia alguma coisa", eu respondi-lhe que lhe devia tudo o que sou. Agora compete-me a mim proteger a mulher que me ensinou a ser forte, e a quem creio, nos últimos tempos desiludi - por não ter a força que necessitava, por afinal ser tão fraca como o próximo.
Sou meiga e terna, amiga do meu amigo, não sei se daria por eles a camisa, mas sabem que podem contar comigo, embora a amizade não me tolde o discernimento, se acho mal digo. Sou frontal , dura nas palavras, agressiva até, quem me conhece sabe que de mim terá sempre a verdade, ainda que esta doe a ouvir.
Sinto-me traída por alguém a quem sempre vi como o meu herói e a quem protegi com unhas e dentes durante 30 anos, para apenas perceber que afinal eu não era m ais do que uma responsabilidade a que tinha de fazer face e que mais tarde não se coibiu de cobrar.
Sou acossada pela falta de dinheiro que me impede de ter a vida que sonhei e que construi, mas que agora não consigo suportar.
Sou sensível às injustiças do mundo, não compactuo com irregularidades, sou intolerante com jogos e negociatas, detesto corrupção, irrita-me a incompetência, o racismo, a ignorância.
Sou atormentada por fantasmas do passado que aos 4 anos me fizeram eleger como esconderijo preferido o vão entre a cama e o chão no quarto da minha bisa, para não ouvir os gritos, as injúrias, os abusos que se passavam lá fora. Fantasmas que vieram também na forma da minha melhor amiga, a quem não consigo falar por me custar horrores reviver o acidente que tivemos juntas, há 11 anos atrás, nem era eu que ia a conduzir, mas não fui eu que perdi a visão nem a memória de curto prazo, eu fiquei apenas com as cicatrizes, algumas mais fundas do que aparentam.
Sou uma profissional humilhada, atirada há 2 anos para a prateleira, retirada de funções e de vencimento que era meu por direito, mas de "castigo" porque decidi que ser mãe era também uma realização pessoal como mulher. Um "correctivo" que me faz neste momento questionar as minhas próprias capacidades, com medo de não ser capaz de recomeçar a trabalhar a sério, duvidando das minhas competências.
Infelizmente como mulher sei que não valho nada! E não é só por não ser a fada do lar que exigem que sejamos, há 2 anos que tento fechar os olhos à limpeza da casa, e como não tenho ajuda, continuo a deixar esquecido o muito que tenho por fazer, o que me incomoda, porque nunca fui capaz de viver numa casa com pó, as minhas amigas diziam que eu preferia ficarem casa a limpá-la a ir sair, hoje só a muito custo o faço, e é porque tenho uma criança.
Sou amargurada porque embora tenha uma relação baseada no amor, no respeito e na confiança, não o consigo aceitar como ele é e ele não me compreende, não me lê os sinais. Acabamos assim por cair na recriminação. Já vi bem de perto, talvez mais do que desejaria, onde terminam estas relações, e por vezes tento contrariar, mas acaba por se tornar num ciclo vicioso.
Neste momento, e Deus queira que seja apenas uma fase má, o que eu sou é um animal ferido, que ataca que se aproximar, seja para matar, ou para curar.
14 comentários:
Miúda, leio-te e...não sei o que te dizer.
Fico muda ao ler a sinceridade do que escreves, a maneira como desnudas o que és, e o que sentes.
Obrigada por partilhares.
Beijinho e abraço apertado, por se servisse de algo.
Ui....
Aqui há uns tempos, nem sei bem se meses ou anos, a tua história parecer-me-ia irreal, tipo novela.
Em 2009, tal como estamos, parece-me uma cena demasiado real, demasiado próxima para passar ao lado.
Viver custa muito. Decidir como viver melhor e estar á altura dessa escolha é ainda mais difícil. Há vezes que parece que o mundo está feito para gente sem escrúpulos, sem fibra moral, sem substância, mas toda a aparência. Tipo os novos diplomas de 12º ano das novas oportunidades.
Quando a vida real não nos dá assim lá muitas novas oportunidades, não é? Falhas pagas, e o falhar nem sequer assenta em nada de justo ou real, ou correcto, ou humano...
Ser mulher é depois ainda mais díficil. A coisa que eu mais desejava no mundo era ter possibilidade de ser apenas e tão só mãe e esposa, mas umas francesas quaisquer de mamas pequenas queimaram uns soutiens aqui há umas décadas e agora é o cabo dos trabalhos para uma pessoa assumir que não só não vive sem soutiens, como odeia, detesta, abomina trabalhar fora de casa, queria era ter as coisas em ordem e não passar a vida a gritar com os inocentes dos putos só porque no final do dia chega a casa com a cabeça feita em água.
Os nossos homens são muitas vezes fracos companheiros de trabalho. Por qualquer motivo que não entendo, nós temos muito mais espírito de sacrifício que eles. Nós abdicamos de tudo o que antes nos dava prazer porque assumimos compromissos, mas a eles isso deixa-os sempre com saudades do tempo em que se embebedavam todas as quintas e apreciam em casa muito cedo, ao raiar do sol, de boleia ou em braços de uma amigo qualquer.
Mas eu tenho cá para mim que não há grandes diferenças entre eles. Nós somos fêmeas, e se conheces gatos sabes que um gato macho raramente é um animal adulto da forma que uma gata o é.
Pensa que tipo de gata queres ser, e reequaciona as tuas contas. Quem abdicou de quê, em nome de quê.
E já agora lê isto, que eu escrevi há uns meses (ou seria anos?), e pensa se é isso que queres ser. (http://namoradosdosapo.17.forumer.com/viewtopic.php?t=650)
Afinal, que raio de casais são esses que não são para uma seca nem para uma inverna?
O próprio título do teu texto conta como a realidade é relativa e como ela depende de quem a lê.
É desconcertante ver como te deixas sufocar pela pressão dos padrões exigentes que traças como razoáveis.
Não que veja algum mal em ter como objectivo a excelência do que nos norteia a vida, mas exageras claramente na forma como te desvalorizas: "Infelizmente como mulher sei que não valho nada!"... tenta ter a noção de que olhas apenas para uma das faces da moeda, de que isso não é verdade.
O teu discurso revela traços de um início de depressão e olha que as depressões são umas sacanas, não te queiras meter nisso... eu ficava por uma pecinha de fruta...
Aparentemente brinco c o assunto, mas apenas te estou a querer dizer de forma leve que n podes entrar em ciclos viciosos de raciocínio q te conduzam realmente p esse tipo de realidade...
Talvez seja altura de simplificares, de despires a vida do acessório. Lembro-me de duas coisas de que li e que ilustram esta ideia, a primeira já n faço ideia de quem é, mas era qq coisa como: "menos é uma possibilidade"; a outra é do Jorge Palma, da altura das bebedeiras, das drogas e da lucidez na sua poesia:
"Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo"
E tira umas férias na Páscoa fazfavor!
Beijinhos
Cris - A minha catarse passa pelo meu blog, aqui onde ninguem me conhece posso ser eu, sem máscaras, apenas eu e os meus pensamentos, voçês são os meus botões.
Ana - Benvinda. Para te responder melhor terei de ler o que me enviaste, e isso só poderei fazê-lo amanhã. Miaus para ti e até lá.
amantesmaria- o meu pior defeito é ser exigente demais, comigo e com os outros. E este é um defeito que não sou só eu a dar por ele, um dia a minha mãe disse-me que eu não podia "pautar" a vida dos outros pela minha bitola, que era demasiado exigente; ao sair do meu primeiro emprego o conselho que uma das colegas me deu foi o de não ser tão exigente comigo própria, e certamente não o ser com os outros.
O meu gato, nunca me vai deixar satisfeita - na parte das limpezas que é a unica coisa sobre a qual discordamos - porque nunca será capaz de garantir um padrão de exigência sequer similar ao meu.
Não é defeito, é feitio, e muito dificil de contrariar. But i am on the right track, i guess!
Oh miúda Gata,
Li-te e fiquei com a sensação de que a história repete-se, e repete-se tantas vezes e com tantas pessoas, a vida é madrasta e quando nos preparam para ela, quem nos prepara mostra-nos o bom não nos mostra o mau e o mau existe ... e é um grande estupor!
Na adversidade temos de encontrar terapias, porque todos os dias nos aparecem adversidades e se entramos em espiral parece que a cada passo se dá um pontapé numa pedra e aparecem mais 3 ou 4 adversidades a moer o juízo.
" Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."
Fernando Pessoa
Há alturas mais escuras, mais duras, mais desesperantes, que nos deixam submersas com vontade de gritar e de fugir (a mim dá-me sempre vontade de bater em alguém!!), de querer tudo o que não temos porque tudo o que temos é tudo o que não queremos, e tudo o que queremos é simplesmente porque não conhecemos o que não temos!!
Concentra-te no essencial no que te é vital, e tens uma pecinha que te é vital e que te traz toda a luz, o teu pirralho!!
Ânimo miúda!
Ana - Pode ter passado a ideia de que culpo o meu gato, mas não o facto é que sem ele a minha vida seria certamente mais dificil, porque ele tem estado sempre do meu lado para me ajudar nas piores alturas, e nas melhores também felizmente. De vez em quando chocamos, porque eu sou (quase) obssessiva na arrumação e na organização e ele é o oposto. Sou uma Gata Mãe sim, defendo a minha cria, ele também e tem uma paciência infinita, quando ele cai é o pai que ele quer.
Se ganhasse o euromilhões podes acreditar que ficava em casa sem fazer puto! Virava dondoca, mas não dá, as contas aparecem ao fim do mês de lá tenho eu de ir para o boteco onde me pagam o salário, nem é mau de todo bem vistas as coisas.
Mas há dias maus, isso há!
Cristiana - O meu essencial é esse mesmo, o pirralhito lindo!!
Gata, este é o tipo de textos que não consigo comentar... e quem os escreve, o tipo de pessoas por quem tenho uma admiração do tamanho do mundo.
Beijo
Pax - E eu tenho dificuldade em lidar com esse teu sentimento. Obrigado e Miaus
Como sabes podia escrever muitas coisas, mas não me parece que este seja o canal adequado!
Sabes, tu assististe a momentos da minha vida em que me depreciei, não me dei o devido valor, estiveste comigo quando desci ao fundo do posso, e sempre estiveste por perto.
Quantas e quantas aventuras partilhámos, em que os sorrisos não eram mais do que máscaras daquilo que efectivamente se passava?
Quantas e quantas vezes escolhemos, quando as escolhas estão à partida viciadas?
Mas tu estiveste lá... sempre...
da mesma forma que eu fico... para sempre!
Vitor - Dei-te o ombro quando precisas-te, disse-te as verdades que não querias ouvir, exigo que faças por mim, o mesmo que fiz por ti, nada mais. Já te disse hoje que te adoro?
Sim, provavelmente por isso e
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