"Pedi ao motorista para, a caminho de Sintra , passar pelo Estoril. Desejava admirar o Hotel Palácio, esse local tão emocionante para mim. tinha tempo disponível antes das três da tarde, hora da missa do casamento. É sabido que as missas de casamento nunca começam a horas.
O motorista levou-me por uma estrada, a que chamou Marginal, e que no meu tempo era bastante diferente. É uma estrada lindíssima, que serpenteia entre Lisboa e Cascais, passando por Paço d'Arcos, Oeiras, Carcavelos, São Pedro...
Ele diz que foi uma estrada muito perigosa, mas que agora, como existe uma auto-estrada, tem menos movimento. Não devem existir muitas estradas no mundo tão bonitas como esta, acompanhando o rio e depois o mar, iluminada por uma luz límpida, esta luz tão rara que este país recebeu como uma dádiva de Deus."
Enquanto Salazar Dormia...
Domingos Amaral
Esta é a estrada que me envolve nas viagens em que percorro o caminho entre minha casa e a casa do meu avô, entre a minha casa e o trabalho e entre a minha casa e qualquer viagem que me leve a Lisboa.
Esta é a estrada mais bonita onde alguma vez passei, a única que me dá uma certa paz quando conduzo através das suas rectas e curvas olhando o mar, esse mar maravilhoso que se estende ao longo as suas bermas. Um mar que em noites de tempestade tenta roubá-la aos condutores e levá-la consigo, acabando por levar alguns deles a embater nos muros que os separam - estrada e mar.
Foi a estrada que me levou a casa depois de ter estado 1 mês no Hospital da Parede em recuperação de um acidente de viação, porque durante 1 mês ouvia as ondas baterem nas rochas, mas nunca pude ver o azul da água nem o branco da espuma, entrei a custo no carro, abri a janela fechei os olhos e senti-lhe os borrifos na cara, inspirei bem fundo e cheirei o sal, abri gentilmente os olhos e percebi porque devia estar agradecida por estar viva.
Foi paralela a ela que viajei de comboio durante anos quando trabalhei em Cascais, era por perto que almoçava a ver o Atlântico, e a imaginar-me a correr mundo, as viagens de barco à Grécia, à Sicília, a Creta, ao mundo do norte de África, às encantadoras possibilidades que o "mare nostro" nos desafia enquanto somos jovens, mas que acabamos por nunca concretizar.
Foi nesta estrada que reaprendi a conduzir depois de 7 anos sem pegar num volante, não por medo antes por puro terror, é esta a estrada que nos últimos 5 anos me tem ensinado a perder os receios que me estão colados ao chão, aos carros que circulam à minha volta, à velocidade, s mudanças aos travões e principalmente ao acelerador.
20 comentários:
Essa estrada é para mim a mais bonita que nunca vi, também.
Só tenho pena de, quando a percorro de carro, não poder ficar a olhar para o mar...assim, em silêncio.
Adoro-a de dia e de noite.
No verão e, especialmente, no inverno, com o mar bravo a mostrar a raiva.
Belo texto.
E bela coragem a tua, depois daquela experiência.
Efectivamente um belo caminho a percorrer....
Foi nessa mesma estrada que me aconteceu uma das coisas mais bizarras da minha "carreira" de condutora:
O mar estava muito agitado, ondas fortes que batiam com violência nos rochedos e paredão, algumas que saltavam mesmo para a estrada quando, de repente, numa dessas ondas, aterra mesmo à minha frente... um grande barco!!!!!
Sério, foi surreal, tinha um barco vindo do mar e estacionado à minha frente, que quase ocupava toda a largura da estrada:)
Foi por uns 10 metros que não me caiu em cima!
Com ou sem barcos, é uma estrada bem bonita, também concordo :)
Corajosa.
beijinho
Cris - Podes ficar a olhar o mar em silêncio sim senhora. Ali pouco antes de chegar a Caxias, no sentido Cascais/Lisboa, há um desvio onde costumam estar "plantados" os senhores da pesca desportiva.Podes parar o carro, nem precisa de sair, é o "perfect spot" para alinhar pensamentos. Experimenta e depois diz me como te sentiste, a mim faz-me maravilhas - alinha-me os chakras! LOL
TM - Maravilhoso e ao mesmo tempo cheio de perigos. Tal e qual o clima de instabilidade que o livro transmite, numa Lisboa crespada dos anos de Guerra, entre a lealdade de Salazar aos fascistas, e a esperança dos espiões e refugiados nos aliados.
Muito interessante.
Pax - Se isso me tivesse acontecido, acho que tinha morrido petrificada ali mesmo, e quando fossem fazer a autópsia não encontravam pingo de sangue.
WAI - Só sabemos de que massa somos feitos quando estamos perante as situações mais incomuns, até lá somos o que pensamos ser, o que por vezes é bem diferente daquilo que somos.
Obrigada minha querida.
e "marginal" pode ser (d)escrito assim...
:))
já cheira....
a férias!
Beijoka grande
Cem - Cheira sim, estão daqui a 2 dias. Venham elas que tanta falat me estão a fazer!
O que eu devia fazer era começar a tentar perceber algo dessas coisas dos chakras e afins.
Acho que sou muito acelerada, e entrar numa fase zen faria muito pela minha alma.
Ponderarei começar ioga....
Raramente por lá passo... Mas tens razão é uma estrada de filmes de ir e vir como uma serpente que abraça a terra e aconchega o mar :)
Gostei de ler o livro que citas…
Quanto à marginal, por mais que não seja percurso que faça habitualmente, também é das estradas que mais gosto de fazer (não é puxar a brasa à minha sardinha mas considero que) de moto é uma experiência ainda mais poderosa que de carro. Por mais que não tenha visto (nem acredite que alguma vez veja) este planeta por inteiro, atrevo-me mesmo assim a dizer que: é uma das mais lindas estradas que nele existem!
Em relação à tua coragem e força de vontade só posso dizer que admiro todas as pessoas que, como tu, não desistem, não abdicam de viver, de estar aqui, sempre à espera de ver um novo nascer do sol porque sabem que são todos diferentes! ;)
Beijinhos,
FATifer
Cris - Eu também percebo pouco de chakras, lol- mas tenho vindo lentamente a aproximar-me do ioga e da meditação, e têm sido um grande auxilio para encontrar uma certa paz e muito do equilibrio que me estava a faltar.
Agora ando a considerar que o proximo passo deve ser o reiki.
LBJ - Estrada de filmes, isso mesmo. Daquelas em que estamos sempre à espera que vá acontecer uma perigosa perseguição a alta velocidade.
:))
FATfifer - Acho que me lembro de uma vez ter visto uma estrada que achei igualmente bonita, no Monaco, mas como a Marginal é a "minha" estrada, ganha-me o coração!
Gata,
Ali aconteceu-me exactamente o mesmo que me acontece em situações de susto ou perigo: no momento controlo, reajo, desvio-me, travo ou acelero consoante a necessidade e só daí a um grande bocado é que fico a tremer como varas verdes!
:)
Pax - Paraste o carro mais à frente, respiraste fundo olhaste o mar e ficaste pronta para uma nova aventura!
Não foi bem assim.
Foi mais: parei o carro para tentar compreender se conseguiria faze-lo espremer pelo buraquinho que restava de estrada, ultrapassei um barco, olhei o mar para ver se não viria outro ainda maior a caminho e suspirei porque já estava atrasada!
:)
Pax - È oficial, admiro a tua coragem!
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